quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Micro conto insólito 59


- Você quer que eu construa uma arca?

- Sim.

- E enfie um casal de cada animal nela?

- Sim.

- Feito Noé? 

- Sim. Mas será a Arca de Carlos.

- Sabe que isso é loucura, não? Quer dizer... Noé fez... mas suponho que a quantidade de espécies era menor ou algo assim, não caberiam naquele tamanho de caixote. Além do que, não sou carpinteiro e gosto de trabalhar sozinho.

- Arca, não caixote. Terás o tempo que for necessário.

- Ok, arca. Mas aquilo ficou lá flutuando sem direção, só Você saberia para onde estava indo. E tem mais, segundo o que li, Você pensou durante a viagem em acabar com tudo... Noé Te convenceu a ir em frente com o plano da arca.

- Isso.

- E se eu não fizer?

- Acaba tudo. A humanidade desaparecerá.

- Preciso de um tempo...

- ...

Meses depois.

- Aquela história de livre arbítrio ainda está valendo?

- Sim.

- Não vou fazer...

- Entendo...

- Decepcionado?

- Carlos, tu me tirastes um peso da consciência.


segunda-feira, 3 de junho de 2019

Micro conto insólito 58



- Ei vô, olhe o que achamos na garagem. Uma medalha da época da guerra.
- Essa medalha estava perdida, já nem me lembrava mais dela..
- A quem pertenceu? Algum parente nosso?
- Sim, pertenceu a meu avô. Ele foi um oficial da inteligência na época da guerra, morreu cedo e ganhou essa medalha por honra em missão.
- Conte para nós.
- Sei pouco sobre o ocorrido, ele foi um agente de campo infiltrado, em outras palavras um espião se quiserem um pouco mais de emoção. Foi enviado ao país inimigo, todos eram inimigos... naquela época os agentes tinham um dente substituído por um falso com uma carga de cianureto dentro, se fossem capturados em missão deveriam morder fortemente o dente para que quebrasse e morreriam sem revelar o que sabiam. E foi o que aconteceu com ele.
- Puxa, quer dizer que nosso tataravô foi um espião?, e condecorado, que legal.
Mais tarde, já na cama...
- Por que você não contou a verdade para os garotos?
- E dizer que o tataravô deles morreu logo na primeira missão porque sofria de bruxismo? Acho que eles gostaram da minha versão.


Micro conto insólito 57



- Satânicos, é isso o que somos agora. Os caras que são os donos do pedaço, vamos mandar nesta escola.
- Vamos fazer algo para marcar o território... deixar nossa marca.
- Vamos invadir a aula do cara de história, o baixinho, aquele que fala de Persas e Medos...
- Isso, vamos mostrar para ele o que é medo. Irá de roupa de baixo para casa hoje.

Quando a sala foi invadida pelos oito satânicos que cercaram o professor, a maioria dos alunos saiu em debandada.

- Ô professor, nós vamos tomar conta de sua aula. - disse um dos garotos olhando o professor de 1,60m de cima para baixo.
- Não garotos, vocês não podem fazer isso.
- Já fizemos... mestre. - E empurrou o homenzinho.
- Garoto, isso não foi nada civilizado. - disse o professor se aprumando e olhando o rapaz diretamente nos olhos. 1,70m.
- O que acha de ir de cuecas para casa?... mestre! - e o empurraram novamente, desta vez ele caiu. Quando se levantou sob a zombaria geral, olhou para os seus agressores e passou altivamente por ele em direção da porta. 1,85m.
- Ei! Não vai a lugar algum... senhor! - o líder deles bloqueou a passagem para a porta, e foi removido de forma quase que delicada pelo professor que trancou a porta por dentro. 2,00m.
- Eu não pensaria em sair agora garotos. 
E um forte cheiro de enxofre se fez sentir.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Micro conto insólito 56


Eu estava num corredor de uma galeria e vi uma pessoa conhecida vindo na minha direção.
Quando eu já estava chegando perto da pessoa foi que percebi, era minha imagem refletida em um espelho que estava no final do tal corredor.
Havia no local um pilar, e eu rapidamente dei uma meia volta no tal pilar me salvando de bater de frente em mim mesma, no espelho.
Quando sai de trás do pilar rindo de mim mesma, descobri que não havia espelho, olhei aturdida para trás e vi eu mesma desvanecendo com um sorriso maroto no rosto. Cruzei com meu doppelganger.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Micro conto insólito 55



- Por que não mandam um daqueles monstros de antigamente para visitar nossos vizinhos?
- Nossos caças e misseis são eficientes, não precisamos de cabalas.
- E eles irão retaliar com foguetes na sequência. Vai morrer gente de um lado, vai morrer gente do outro, e depois começa tudo novamente. Ainda acho que um dos monstros do folclore poderia resolver a questão.
- Não é uma contenda interna, é uma contenda milenar.
- Espere, você acredita mesmo nos golens?
- E você não? Mas não funciona assim, eles não são nosso povo; se funcionasse entre povos rivais, golens os visitariam e gênios nos visitariam... e não sobraria pessoas em ambos os lados para cantar as vitórias.
- Você é maluco.
- Cuidado com a língua, porque talvez uma noite dessas você receba uma visita perturbadora.


domingo, 18 de novembro de 2018

Micro conto insólito 54


- Eu sempre achei que nossa empresa não deveria participar desses programas alternativos governamentais.
- É uma grande vantagem para os negócios, ganhamos crédito extra nas negociações e descontos nos impostos.
- Disso eu sei, mas vá até o chão de fábrica para explicar isso aos colaboradores e convença-os de que está tudo bem.
- Isso é trabalho seu, o meu é facilitar o acesso para os alternativos.
- O sujeito já teve a segunda chance que lhe foi prometida e ele a queimou.
- O pessoal do programa de pena alternativa e recolocação não irão aceitá-lo de volta tão facilmente, não tem onde estocá-lo. E um frigorífico é de acordo com os psicólogos do governo o lugar ideal para o nosso amigo. Vá e de um jeito.
- Inferno... um serial killer no setor de corte... e eu que tenho de garantir-lhe a terceira chance...


Micro conto insólito 53


- Sr. Silva poderia nos dar uma palavra para o noticiário das 9?
- Sim, sim.
- Olhe para a câmara ao responder... Vamos começar. O sr. sempre foi um atleta?
- Não, não, comecei tarde nos esportes e só recentemente resolvi competir.
- Foi uma pena a perda do seu treinador... mas o sr. continuou os trabalhos mesmo assim.
- Ele era uma amigo de longa data, fará falta.
- E o que reserva para o futuro, o sr. como recordista para a categoria pensa em mudar para outras modalidades como alguns colegas seus tem feito recentemente?
- Por enquanto vou continuar na modalidade, espero quebrar meu próprio recorde ainda nesta temporada. Bem, preciso ir, a prova será dentro de meia hora.
- Boa sorte, ficaremos na torcida. Não percam o sr. Silva logo mais na corrida de 200 m com andador para homens com mais de 95 anos.



Micro conto insólito 52


- Qual era a o motivo para esta reunião e que os senhores não podiam falar pelo telefone? O relatório está pronto? A comunidade científica espera a conclusão sobre os corpos encontrados com ansiedade.
- Sim Sr Diretor, mas é bom que tenha a mente aberta para as conclusões a que chegamos.
- Como assim?
- Vou resumir, vá até a página 134...
- Um joelho? Uma prótese em um corpo que vocês diziam ter 30.000 anos? Como podemos ter errado em um simples teste de carbono? Como?
- O teste foi realizado várias vezes e a conclusão é a mesma.
- VOCÊS ESTÃO QUERENDO QUE EU ENGULA QUE UM MALDITO CORPO CONGELADO TEM 30.000 ANOS E JÁ USAVA UMA PRÓTESE DE JOELHO?
- Sim, mas vá para a página 340 sobre a fêmea...
- ... próteses oculares e funcionais... Impossível... !!!
- E rins e pâncreas artificiais no terceiro corpo... Era sobre isso que não poderíamos falar pelo telefone.


Micro conto insólito 51


Início dos anos 50s.

- Eu sabia que você reconsideraria e voltaria para mim... ter você com a cabeça em meu colo voltada para as estrelas era o que eu mais queria novamente... não é romântico?
-
- Eu sei você está sem palavras, mas sei que era o que queria também. Eu pensei, pensei que você voltaria para mim assim que a guerra acabasse. Demorou muito, mas agora estamos juntos novamente.
-
- A guerra nos separou por muitos anos... mas fez algo de bom... anos atrás eu não suportaria todo este sangue em meu vestido. Diga algo por favor, seu silêncio me intimida.


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Micro conto insólito 50


- O que aconteceu desta vez?
- Emboscada na rua 5.
- Deixe eu ver isso... braço quebrado, aguente um pouco.
- Papa... por que eles nos odeiam? Somos iguais a eles.
- Acho que está na hora de você saber toda a verdade. Eu vou reunir alguns arquivos para você.
- Sempre foi assim?
- Por enquanto siga meu conselho: fique longe de humanos.


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Micro conto insólito 49


- Vou avançar deserto adentro, volto amanhã de manhã. O Atacama é bonito e silencioso a noite. Não gostaria de ir junto?
- É perigoso.
- Estou levando suprimentos para vários dias, e avisei o pessoal do laboratório.
- Ok, vou junto então.
Horas depois, longe de tudo.
- Veja esta planta, ela floresce somente nesta época do ano. Seu pólen é extremamente nocivo para alérgicos.
- Quero... preciso ficar longe disso.
- Um pouco tarde, seu rosto já está vermelho.
- Meu anti histamínico...
- Talvez você ache o tubo vazio nas suas coisas. Da mesma forma que eu não achei os dados da pesquisa que você roubou e vendeu ao laboratório rival.
- Você não entende.
- Entendo sim... você conseguiu uma pequena fortuna com minha pesquisa e eu tive de partir para outra, já que o outro laboratório atingiu a meta.
- Não consigo... respirar.
- Dedução concisa mas sem originalidade. Adeus Janete.


Micro conto insólito 48


- Não aguento mais esses cachorros
- O Sr. não acha que deveria ter uma lei contra essa barulheira?
- E tem, mas ninguém a respeita, nem mesmo a policia.
- Dá vontade de sumir com todos esses bichos.
- Se morrerem, os donos conseguem outros, e o ciclo recomeça.
- Então é melhor sumir com os donos... os cachorros vão para o canil da prefeitura.
- E não é que a senhora teve uma boa ideia? < Sorrindo sem usar os olhos >
Dias depois...
- O Sr. viu que os donos daquele cachorro grande morreram de repente?
- Morreram? Qual o motivo?
- Ataques de coração, consecutivos, o marido morreu primeiro.



Micro conto insólito 47


- Quarenta ovos por 10 real.
- Amaciante, água sanitária...
- Vassouras, rodos, vassouras e rodos...
- Pamonhas, pamonhas...
- Pizza baratinha...

- Eu não aguento mais esses carros de som, e o Sr?
- Se pudesse eu os impediria de circular pelo bairro.

Dias depois...
- O Sr. percebeu que a rua está quieta? Sumiram os carros de som.
- Deram um alívio.

Mais alguns dias...
- O Sr. viu que horror?
- Vamos por partes, o que onde e como?
- O Sr.viu um ônibus parado na praça no fim da rua de baixo?
- Um amarelo?
- Isso, os carros de som estão estacionados na rua e os donos estão dentro do ônibus todos.
- Por isso as sirenes e todos aqueles carros de policia passando?
- É, disseram que estão esquartejados e organizados em montes, todos com preços baixos...
- Com licença, vou passar mal dentro de casa.



Micro conto insólito 46


- Você ganhou.
- É ganhei, sozinho.
Dias depois. - Precisamos conversar... esqueça o passado, você tem dezenas de vezes o que te tomaram. Não pense em vingança, elas sempre são caras.
- Mas era a minha vida.
- Sua vida é aqui e agora. Vamos passear, Europa, você pode novamente, vamos de navio.
Semanas depois em Roma. - Eu vi na internet, seu antigo rival morreu em um incêndio, ele e o irmão.
- Eu soube... mas agora tudo é passado, como você disse, a vingança é sempre cara.


Micro conto insólito 45


- Cheguei... Olá... Onde você está? Saiu...
O celular toca. - Não vai voltar para casa?
- Eu acabei de chegar. E você? Onde está?
- Está brincando? Eu estou na sala. Diga onde você está metido.
- Eu estou na sala.
- Pare com isso, e volte para casa, pediremos uma pizza.
- Eu estou com a pizza aqui e sozinho.
- Você está me deixando assustada... e eu estou sentindo cheiro de pizza.
- Ei! Estou vendo aqui, você está ligando do telefone fixo? Como pode se ele está na base?
- Ele está na minha mão...