sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Tampas

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TIRANDO A TAMPA

“Qual a principal lição que você aprendeu em relação a liderar pessoas?”
Foi uma das perguntas que recebi de um grupo de jovens executivos, todos em posição de liderança de equipes, após uma de minhas palestras.
Respondi na lata:

- Tire a tampa.

E então contei a história de um vizinho, também jovem executivo, que sempre conversava comigo nos finais de semana. O rapaz começou na empresa como estagiário e durante um bom tempo passou por várias áreas, sempre em torno da função que queria desempenhar no futuro: engenharia. Até que foi promovido para gerente. E estacionou. Era figura apagada, sempre calado nas reuniões, o tipo de pessoa que, se não aparecer na festa, ninguém nota...

Já o chefe do rapaz era aquele tipo de sujeito “opiniático”, que tem resposta pra tudo. Suas frases sempre começavam com um “não”. Depois vinham as explicações, a maioria justificando a razão para não fazer algo acontecer. Ou então dizendo que aquilo já havia sido feito em tal lugar, que ele participara do processo e que estava tudo sob controle. E ai de quem discordasse... Debaixo dessa figura, meu jovem amigo permanecia apagado. Até que um dia...

Uma das fábricas da empresa estava em dificuldades e precisava de alguém treinado para gerenciá-la . Meu jovem amigo foi designado. Mudou de escritório. De cidade. E de chefe. E da noite para o dia começou a mostrar brilho nos olhos. Energia. Vontade de fazer acontecer. Pegou um pepino gigantesco que descascou aos poucos, trombando aqui, quebrando a cara ali, acertando acolá, como em todo processo de aprendizado. E deu certo. Até que um dia ele foi promovido a gerente geral da operação.

O garoto apagado havia se transformado numa estrela brilhante. Dava gosto falar com ele. Curioso, tentei encontrar a razão para uma mudança tão forte e repentina. E não deu outra... O novo chefe do rapaz, como o antigo, era opiniático. De personalidade forte. Com resposta pra tudo... Mas diferente do anterior, tirou a tampa. Ou melhor, jamais serviu como tampa.

Nunca ficou sentado sobre os talentos de seus colaboradores, micro controlando. Sempre serviu como chama, fervendo as pessoas que - sem tampa - transbordavam...

Essa figura - tirar a tampa - virou uma espécie de mantra em minha vida: “tire a tampa...tire a tampa...tire a tampa”...

Passei a aplicar também em minha casa, com meus filhos. Tirando a tampa. Ampliando seus limites. Dando-lhes responsabilidade. Deixando que transbordem.
Vão cair, é claro. Vão se queimar. Vão escorregar... Mas existe outra forma mais eficiente de aprender?

Líderes que agem como tampas costumam permanecer por 20, 30, 40 anos nas empresas. Elas gostam de gente assim. Essas pessoas acham que agindo como tampas, estão protegendo seus comandados. E estão certas, tampas servem para proteger. Mas também para conter, impedir que o conteúdo saia.

Meus jovens interlocutores ouviram atentos, saboreando cada palavra que eu dizia. Depois despediram-se pensativos. Eu sabia o que se passava em suas jovens cabeças.
Eles estavam se perguntando...
- Sou fogo ou tampa?


Texto de autoria de Luciano Pires
www.lucianopires.com.br

O podcast da semana dá a largada com uma frase do escritor e historiador inglês Thomas Fuller que é uma porrada: “Quem tem medo de ti na tua presença, odeia-te na tua ausência”. Vamos falar do cagaço que domina a maioria dos profissionais nas empresas de hoje. E vamos falar dos cagonautas, os formadores de cagões. Seu chefe pode ser um deles!


Na trilha sonora, temos Orlando Silva, Teodoro e Sampaio, Cáio Márcio, Vander Lee, Sérgio Sampaio e Simone. Fala verdade… Só no Café Brasil, não é? WWW.lucianopires.com.br/cafebrasil/podcast .

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