terça-feira, 29 de abril de 2008

Assustador

Mendigo na Avenida Nossa Senhora de Copacabana - Hipólito Pereira/O Globo

BRASÍLIA E RIO - O morador de rua brasileiro é alfabetizado, tem atividade remunerada e na maioria das vezes não recebe ajuda do governo, segundo mostra uma pesquisa feita em parceria entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Um dado que surpreendeu foi o índice de alfabetização: 74% dos moradores de rua entrevistados sabiam ler e escrever. De acordo com a pesquisa, 17,1% não sabem escrever e 8,3% apenas assinam o próprio nome.

O levantamento mostra, no entanto, que 63,5% não completaram o ensino fundamental - sendo que 15,1% nunca estudaram e 48,4% possuem ensino fundamental incompleto. O percentual restante se divide entre os que têm ensino fundamental completo (10,3%), ensino médio incompleto (3,8%), ensino médio completo (3,2%), superior incompleto (0,7%), superior completo (0,7%), não sabem informar (7,7%) e não foi informado (10,1%).

A Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua ouviu pessoas com mais de 18 anos que vivem nas ruas de 71 cidades com mais de 300 mil habitantes. ( Confira a contagem por município )

" O objetivo é conhecer as características da população "


Entre os entrevistados, a maioria (71,3%) disse que passou a viver e morar na rua por conseqüência de alcoolismo ou uso de drogas, desemprego e brigas familiares. Pela pesquisa, 79,6% fazem pelo menos uma refeição por dia e 19% dos entrevistados não conseguem se alimentar diariamente.

Os programas governamentais não alcançam 88,5% dos entrevistados, que negam receber qualquer benefício do governo. Do total dos entrevistados, 95,5% disseram não participar de nenhum movimento social e 61,6% não exercem o direito ao voto.

Sobre o fato de que a maioria dos moradores de rua não recebe Bolsa Família, a secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social, Arlete Sampaio disse que o programa talvez não seja o melhor instrumento para atingir esse público. Ela afirmou que um grupo interministerial estuda uma política para esse segmento. O programa Bolsa Família beneficia 2,3% do público pesquisado.

A maior parte da população em situação de rua no Brasil (70,9%) exerce atividades remuneradas, entre elas a de catador de materiais recicláveis, flanelinha, empregado de construção civil e de limpeza e como estivador (ajudante de embarque de carga nos portos). A maioria (52,6%) recebe entre R$ 20 e R$ 80 por semana e 15,7% têm a esmola como principal meio para a sobrevivência. No universo pesquisado, 27, 5 % dos entrevistados disseram que trabalham como catador de papel, 14,1% cuidam de carros e 6,3% atuam na construção civil. No entanto, 1,9% dos entrevistados confirma trabalhar com carteira assinada e 47,7% nunca tiveram trabalho formal.

Para secretária-executiva, dados surpreendem

Na avaliação da secretária-executiva, os dados da Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua surpreendem e acabam com alguns preconceitos como o de achar que a população de rua não trabalha. De acordo com a secretária, o objetivo do estudo foi mapear a população com 18 anos ou mais de idade, e não os menores de idade. Segundo ela, o governo já tem ações para combater o trabalho infantil e a exploração sexual de crianças e adolescentes.

- O objetivo é conhecer as características da população - disse a secretária

Foram identificadas 31.922 pessoas em situação de rua nas cidades pesquisadas vivendo em calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias, barcos, túneis, depósitos e prédios abandonados, becos, lixões, ferro-velho ou pernoitando em instituições (albergues, abrigos, casas de passagem e de apoio e igrejas).

A maioria das pessoas (69,9%) dorme nas ruas, 22,1%, em albergues e 8,3% costumam alternar. O principal motivo que leva os entrevistados a preferirem locais públicos para pernoitar é a liberdade, pois não há estabelecimento de horário de permanência nem proibição do uso de álcool e drogas.

A taxa de recusa dos entrevistados em responder ao questionário foi considerada baixa pelos pesquisadores - 13,4%. Desses, 36,6% disseram desacreditar que o levantamento possa beneficiá-lo, 18% não acordaram para responder, 14,3% estavam embriagados e 14% aparentavam transtorno mental.

Arlete Sampaio disse também que as cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre ficaram fora do levantamento porque estudos semelhantes já haviam sido feito nessas capitais.

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