quarta-feira, 29 de julho de 2009

Abstinência de um prazer solitário

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Desci para colocar o saco de lixo na calçada. E me enrosquei todo em uma linha de pipa que estava no caminho.
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Essas linhas são fortes, assim como a teimosia dessa garotada em usá-las. Nos metros perto da pipa ainda usam o cerol.
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Eu simplesmente odeio cerol. Para dizer a verdade, não gosto como essa moçada empinam as pipas. O que era para ser um prazer solitário (sic), acaba se tornando uma batalha aérea. Empinar pipas foi um dos prazeres que eu abandonei por conta desse egoismo, dessa competição que eu não queria participar.
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Mas estava falando do cerol.
Motocicletas foram (ainda são) uma paixão. Certa vez, após regular uma RS Yamaha, sai para saber como havia ficado o motor. Na volta, uma linha sobrou na minha frente, solta sem dono, mas com cerol. Elas sempre resvalam no corpo ou no capacete, e seu destino é sempre na altura da garganta. Instintivamente levantei a mão, a linha cortou a luva e chegou a cortar as laterais do pescoço. Muitos motociclistas (motoqueiros também) já se machucaram ou perderam a vida com essa falta de lucidez.
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Conheço o cerol desde (ihhh, acho que era do tempo em que as figuras ainda ficavam de lado e eram cinzeladas nas paredes) faz tempo... Tenho uma marca no pulso direito e, desde essa época abominei a coisa. E nem estava soltando pipas.
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Aliás nessa época ainda as chamavamos de papagaios de papel.
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O Papagaio de Papel


Eu queria ser
Um papagaio de papel.
Assim poderia ter
O profundo azul do Céu.

Escolhas a fazer:
De seda, o papel.
A cor a manter,
Azul como o próprio Céu.

E voaria ao sabor do vento,
Voaria no alto e sem medos.
Do azul, sabe quem me conhece,

Que é a própria cor do Tempo.
Do Vento, ele que guarda segredos.
Voar é para o espírito, a liberdade que se carece.


J Carlos Favoretto
10 Maio 2001

Da serie: Azul
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