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Existem pessoas que são sempre lembradas, mesmo que você não conheça a sua história: Lincoln, Hitler, Juscelino, Gates. Mas são casos especiais, a grande maioria são pessoas medíocres que levam vidas medíocres - esqueça o lado negativo da palavra. Dentro do seu tempo e espaço são lembradas.
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- Entregue estes papeis para o Sr. Júlio.
E os papeis chegam.
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Tem gente, porém, que nunca é alguém sozinho, por mais que faça. São os anônimos eternos, sem uma ajudazinha, uma forma de posicioná-los na sociedade, nunca são lembrados. A malfadada "referência de terceiros".
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- Entregue estes papeis para o Sr. Júlio.
E os papeis chegam.
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Tem gente, porém, que nunca é alguém sozinho, por mais que faça. São os anônimos eternos, sem uma ajudazinha, uma forma de posicioná-los na sociedade, nunca são lembrados. A malfadada "referência de terceiros".
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- Quem é aquele pentelho?
- O irmão do Luisinho, filho da D. Mariana.
- Ahhh!
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Quer dizer, apesar da peraltice, não teve o nome lembrado, nem bastou ser irmão do Luisinho, teve de ter o aval da mãe.
Tem um monte de exemplos desse tipo, olhe em volta.
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- Quem é esse? Amigo do Serginho?
- Não, é o namorado da Lurdinha.
- Nossa! Rapaz estranho, educado demais.
- Pois é.
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Algumas vezes são quase fantasmas...
- Eu não sei o nome do garoto, mas era da classe da D. Rose, a professora de artes. A mãe vem sempre pegá-lo à tarde, aquela gostosona loira do Tucson..
Algumas vezes são quase fantasmas...
- Não lembro da cara do garoto.
Tivemos um caso na faculdade, estudamos com um cara chato, ninguém lembrava do seu nome, mas tinha a cara do amigo chato do chato do Zé Carioca, o Nestor. Era um dos que faziam mecânica mas estavam, assim como eu, alocados no primeiro ano na turma de civil.
- Você viu o Nestor por aí?
- Ahhh, aquele? Vi não.
E não sabemos se o Nestor se formou ou não.
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Então a referência é sempre o irmão, o pai, a mãe, turmas de escola... E o nome raramente é lembrado, situação algumas vezes passageira, normalmente é para sempre.
Eu mesmo, durante algum tempo passei por isso. Tive um primo que morou conosco. Estudávamos na mesma escola, mas em turmas diferentes. Ele foi um cara que fez sucesso entre os bagunceiros de plantão. Apelidaram-no de Beleza, nunca soube o por quê; para o pessoal da sua turma eu era "o primo do Beleza". Tem coisa mais boiola? Felizmente, águas passadas.
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Alguns tentados a mudar o jogo, ter o nome lembrado e serem a referência, colocam o próprio nome no filho acrescidos de "Júnior".
- Quem é esse senhor?
- O pai do Júnior.
- Ahhh, o Júnior Pai!
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Mas tem coisa pior...
- Sujeito estranho esse que saiu da loja. Tinha um olhar distante.
- Não reparei.
- Estava com uma jaqueta escura.
- Ah tá. Vi sim.
- Quem será ele?
- Acho que era o viúvo da Sílvia.
- Que saudade que ela nos deixou.
- Nem me diga.
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