Lembrei de uma aula de história ocorrida pouco mais de 40 anos atrás.
A professora de nome Patricia, uma moça de seus 20 e poucos anos, miúda e com jeito de patricinha; gíria que não se usava na época e não se usa mais hoje, mas irresistível como piada quando se tem um nome desses.
Nós éramos uma turma por volta de 13/14 anos de idade, totalmente ignorantes em relação ao mundo, até mesmo ao que acontecia na esquina. Não havia internet, não havia Google, Bing e Facebook; se houvesse, seríamos como hoje, ignorantes e sem opinião, porém com acesso à informação.
A aula era sobre a Grécia, e tome-lhe o significado de "ágora", cidades-estado, as diferenças entre Atenas e Esparta, e para explicar melhor um conceito ela contou uma historieta.
Mais ou menos assim:
Um sujeito andando pela rua, é abordado por um grupo que o questiona: você é a favor ou contra o governo?
Ele responde que a favor, e leva uma surra por conta da resposta.
Continua andando, fazendo um levantamento dos machucados e escoriações, e encontra um segundo grupo, que lhe faz a mesma pergunta.
Ele responde que é contra, e leva uma surra por conta da resposta.
Todo machucado e dolorido, não sabendo nem mesmo onde não doía, se depara com um terceiro grupo que vem na sua direção. Ele corre e consegue subir em uma árvore.
O grupo chega na árvore e o questionam: o que você está fazendo aí e você é a favor ou contra o governo?
Eu sou uma fruta, e frutas não são nem a favor e nem contra...
A historieta era para ilustrar o que era democracia, ou de como deveria ser uma democracia. Em uma democracia, o sujeito poderia até ser uma fruta, mas se fosse a favor ou contra, não deveria apanhar por ter uma opinião contrária a quem lhe questionava.
A historieta ficou guardada; para um bando teen, obtusos e ignorantes que éramos, em plena ditadura dos anos 70, a lição foi interessante.
Que bom que estamos em um novo século, novo milênio, onde não somos mais aqueles moleques ignorantes pressionados por uma ditadura militar, onde o livre pensar é respeitado por nossos semelhantes. (!)
Grande Patrícia, devíamos ter ouvido melhor as sua aulas.
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