terça-feira, 10 de julho de 2007

Imperialismo? Nããããão! Imagina que eu faria isso!

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Fundos querem que Petrobras deixe o Irã
OGloboOnline
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WASHINGTON - Dentro de alguns meses, cinco dos maiores fundos de pensão dos Estados Unidos terão que se desfazer de um bloco significativo de ações da Petrobras se a empresa continuar fazendo negócios com o Irã, ignorando as pressões que ela e outras companhias estrangeiras vêm sofrendo para se afastar do lugar.
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Responsáveis pelo pagamento de aposentadorias a milhares de funcionários públicos do Estado da Flórida, esses fundos tinham o equivalente a US$ 113 milhões em papéis da Petrobras na sua carteira no fim de maio, dinheiro suficiente para colocá-los entre os maiores acionistas da empresa no mercado americano.
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Uma lei sancionada há algumas semanas obriga os fundos administrados pelo Estado da Flórida a fazer a mesma coisa com qualquer empresa que tenha investimentos no Irã. Pode ser apenas o começo. Propostas semelhantes estão em discussão atualmente no Congresso e em uma dúzia de outros Estados.
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Os EUA têm ampliado a pressão sobre as companhias estrangeiras que atuam no Irã por acreditar que sua permanência lá prejudica o esforço que a comunidade internacional tem feito para isolar o regime iraniano e conter a expansão das suas atividades nucleares. Empresas como a Royal Dutch Shell, a francesa Total e a italiana Eni também estão presentes no Irã.
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A lei da Flórida é a única em vigor no momento. Ela dá aos fundos três meses para identificar em suas carteiras empresas que tenham investimentos no Irã e outros três meses para que os fundos tentem convencê-las a sair de lá. Se a pressão não funcionar, eles serão obrigados a vender as ações dessas empresas e terão um ano para fazer isso.
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Em termos meramente contábeis, as consequências da perda desses acionistas tendem a ser pequenas para uma empresa do tamanho da Petrobras, que atualmente vale mais de US$ 110 bilhões no mercado. Se outros Estados imitarem a Flórida, o impacto financeiro da venda das ações poderá ser diluído num longo período de tempo.
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Mas essas iniciativas podem criar complicações de outra natureza.
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Elas geram custos muito elevados para a reputação das empresas afetadas, diz Christopher Holton, vice-presidente do Centro para Política de Segurança, uma organização que tem trabalhado para promover leis como a que passou na Flórida.
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A Petrobras tem um contrato de US$ 32 milhões com o governo do Irã para explorar um bloco no Golfo Pérsico. Os investimentos podem atingir US$ 78 milhões se algo promissor for encontrado. A estatal negocia com os iranianos um contrato maior para explorar dois blocos no Mar Cáspio, que pode levá-la a investir nos próximos anos mais US$ 470 milhões no país.
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No início de junho, outro fundo americano importante, o dos professores do Estado da Califórnia, enviou cartas de advertência à Petrobras e outras 12 companhias de petróleo, recomendando que avaliassem direito os riscos de continuar investindo no Irã. No fim do mês passado, esse fundo de pensão tinha o equivalente a US$ 170 milhões em ações da Petrobras.
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A Califórnia não tem uma lei como a da Flórida, mas um projeto parecido está em discussão. O principal fundo de pensão dos funcionários públicos estaduais é contra a idéia, por causa das perdas que terá se precisar jogar fora um pedaço importante dos seus ativos. Mas os professores são a favor do projeto, e sua carta pode ser vista como um sinal do que ainda poderá acontecer.
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Na última semana de junho, o órgão regulador do mercado de capitais americano, a Securities and Exchange Commission (SEC), criou uma página na internet para expor empresas com negócios no Irã e em outros quatro países que os EUA acusam de financiar grupos terroristas - Coréia do Norte, Cuba, Síria e Sudão. A Petrobras está na lista.
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No Congresso, um projeto em tramitação obriga o governo americano a publicar periodicamente listas com as empresas que tiverem investimentos superiores a US$ 20 milhões no Irã. Outra ameaça é estender a subsidiárias de companhias estrangeiras as penalidades que hoje são aplicadas apenas contra empresas americanas, proibidas por lei de fazer negócios no Irã.
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A aprovação de uma medida como essa teria conseqüências sérias para a Petrobras nos EUA. Ela ficaria impedida de obter financiamento no mercado americano e não poderia mais receber concessões do governo federal, como as áreas que explora no Golfo do México. Mas pessoas que acompanham essa discussão acham muito improvável que o Congresso vá tão longe.
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O governo brasileiro tem manifestado indiferença diante dessas pressões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu o assunto em março com o presidente dos EUA, George Bush, e saiu da conversa avisando que a Petrobras continuará investindo no país.
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Não temos nenhuma divergência política [com o Irã] e vamos continuar trabalhando junto naquilo que for de interesse do Brasil, disse o presidente.
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Há duas semanas, ao responder a uma pergunta sobre a carta do fundo de pensão dos professores da Califórnia, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse não ver nenhuma razão para se afastar do Irã.
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Nós temos operações muito pequenas no Irã, disse Gabrielli.
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Nos últimos anos, o governo americano questionou a Petrobras sobre seus investimentos no Irã pelo menos três vezes. Em setembro de 2005, a SEC mandou uma carta à empresa pedindo detalhes sobre sua atuação no Irã, na Líbia e em Cuba. O Valor obteve cópias da carta da SEC e da resposta da Petrobras.
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O diretor financeiro da estatal, Almir Guilherme Barbassa, respondeu dizendo que os investimentos no Irã e na Líbia eram muito pequenos para representar riscos significativos para a empresa e seus acionistas, seja do ponto de vista econômico, financeiro ou reputacional. A Petrobras analisou oportunidades em Cuba recentemente, mas fechou seu escritório na ilha em julho de 2005, diz a carta.
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Os EUA voltaram a fazer perguntas sobre o interesse da Petrobras no Irã no ano passado, antes de aprovar a aquisição da refinaria que a empresa comprou em Pasadena. O negócio precisou ser submetido a uma comissão do governo que analisa aquisições de empresas americanas por grupos estrangeiros nos casos em que a mudança pode afetar a segurança nacional.
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No início deste ano, o embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, procurou Gabrielli para manifestar sua preocupação com os investimentos da Petrobras no Irã e avisar que a subsidiária da empresa nos EUA poderia ter problemas por causa disso. Como Lula deixou claro depois na conversa com Bush, a pressão não deu em nada.

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